ETAPA SHANGHAI

Em Londres, há 14 anos, um jovem estudante do Senai Paraná subia ao pódio como o melhor do mundo na ocupação de Eletrônica. Com apenas 18 anos, Gabriel D’Espindula conquistava a medalha de ouro na WorldSkills de 2011 e marcava para sempre a história da educação profissional brasileira.

Nos bastidores dessa vitória, estava uma mulher com olhar atento, mente inquieta e coração de mãe. Hoje, essa mesma mulher percorre as arenas da etapa nacional da WorldSkills 2025, em Brasília, fazendo o que sabe de melhor: escutar, orientar, cuidar e ajudar a transformar.

Ela é Ana Cristina D’Espindula, psicopedagoga especializada em neurociência aplicada à aprendizagem. Mas, antes de tudo, ela é a mãe de um campeão. Ou melhor, de dois campeões. Em 2016, o filho mais novo, Germano, também participou da WorldSkills em uma ocupação na área de mecânica e conquistou medalha de prata na etapa nacional.

Se no passado Ana apoiou os filhos na WorldSkills, hoje ela apoia uma nova geração como especialista. Psicopedagoga com formação internacional, atua na preparação dos competidores do Senai Paraná para a WorldSkills com um olhar diferenciado: o da mente e o do coração.

“Quando meus filhos competiram, eu percebi a necessidade de algo além do treino técnico; não era só acolher emocionalmente ou dizer ‘vai lá, você consegue’. Tinha algo a mais que precisava ser desenvolvido: foco, atenção, planejamento mental, regulação emocional. Como mãe, vivenciei isso de perto. E como psicopedagoga, comecei a entender como poderia contribuir.
Sempre conversava com os meninos, mesmo sem poder atendê-los formalmente, compartilhando orientações sobre habilidades neurocognitivas que favorecem o foco, a atenção e as funções executivas — capacidades que fazem parte do funcionamento do nosso cérebro e podem potencializar a aprendizagem.
Anos depois, em uma conversa informal com um dos professores do Gabriel, comentei sobre essa importância. Ele se interessou. Pouco tempo depois, veio o convite formal do Senai para estruturar esse trabalho com os competidores. Foi então que entrei com minha empresa de assessoria”, conta Ana.

Sua atuação vai de orientações em grupo a atendimentos individuais, passando por vídeos, textos, práticas respiratórias e orientação neurocognitiva. Mas em Brasília, nesta etapa nacional da competição, Ana se tornou muito mais do que uma psicopedagoga: ela virou referência afetiva.

Ela é quem acolhe o choro silencioso, quem percebe a ansiedade disfarçada, quem oferece um abraço no tempo certo.

Ela é a voz serena que diz: ‘Você vai conseguir, e eu estou aqui com você.’

No olhar de cada competidor que cruza o corredor, há reconhecimento: Ana é abrigo.

Foto: Wallace Martins/SENAI DN

Educar é mais do que ensinar - como Ana descobriu a psicopedagogia

A inquietação de Ana sobre os sistemas tradicionais de ensino começou cedo. Por que alunos tão inteligentes iam mal nas provas? Por que tantos desistiam de estudar?

Foi esse incômodo que a levou à psicopedagogia, à neuropsicologia educacional e à busca por respostas fora do convencional.

Para ela, aprender é mais do que estudar. É estar em movimento. É transitar entre ensinar e aprender. É olhar o outro com escuta verdadeira. E é esse olhar que ela compartilha com os jovens da WorldSkills.

 

“Um dia, lendo um artigo de uma professora que se tornou uma referência para mim, o texto falava exatamente sobre isso: que a aprendizagem se dá pelo olhar. Quando você tem um olhar que foge do circuito nota-prova, você dá a oportunidade para que o conhecimento apareça e surja desse conhecimento um aprendente. Eu achei aquilo tão interessante, tão parecido com o que eu já pensava, que decidi estudar psicopedagogia. Na época nem existia o curso aqui no Brasil. Era chamado de pedagogia terapêutica. Fiz uma especialização, mas ainda não era o suficiente. Então fui estudar na Argentina. Lá eu entendi que estudar e aprender são coisas diferentes.”

 

O curso técnico como ferramenta de descoberta

Na visão de Ana, o ensino técnico não é um “plano B”. Pelo contrário: é um trampolim para que o jovem descubra com o que quer trabalhar, ganhe repertório, construa maturidade e, só então, decida os próximos passos.

 

“É muito cruel, eu acho, você dizer para um garoto de 17 anos que agora ele precisa, obrigatoriamente, escolher uma profissão. A possibilidade de errar é muito grande. E o ensino técnico, que muitas pessoas ainda cometem o engano gigantesco de enxergar de forma errada, como se formasse profissionais para cargos de baixa qualificação, abre, na verdade, muitas possibilidades de repertório. O convívio dentro de uma escola técnica que ensina o aprendizado dentro de um universo de trabalho traz mais segurança para o jovem. Ele funciona como um entremeio: entre a finalização do ensino médio e a entrada na universidade.”

 

Foi assim com Gabriel e com Germano, o filho mais novo de Ana, que também passou pelo Senai, conquistou medalha nacional e hoje trabalha como engenheiro mecânico na Áustria. E só por curiosidade, Gabriel também trabalha como engenheiro para uma multinacional instalada na cidade de Gothenburg, no sul da Suécia.

 

Conselhos de quem viveu — e ainda vive a jornada de orientar jovens em busca do seu caminho

Para Ana, os pais têm um papel essencial na construção da trajetória dos filhos, mas precisam mudar o foco:

“Em vez de perguntar ‘que faculdade você vai fazer?’, pergunte ‘com o que você quer trabalhar?’. Isso muda tudo.”

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Foto: Wallace Martins/SENAI DN

Ela também defende que jovens devem ser expostos a diferentes experiências, mesmo que breves, para ganharem repertório.

“Visite o ambiente de trabalho de um amigo dos seus pais. Teste possibilidades. Experimente. Isso acalma a ansiedade e dá direção.”

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Mais que medalhas: um caminho de preparação e crescimento

Ana costuma usar uma metáfora com os competidores: subir a montanha exige treino, preparo, persistência. Mas o mais importante não é chegar ao topo. É o que você aprende no caminho. Esse é o verdadeiro legado da WorldSkills.

A medalha é um símbolo, mas o que transforma são os valores aprendidos: disciplina, foco, superação, humildade, trabalho em equipe.

E, claro, o olhar de alguém que acredita, mesmo quando você duvida de si mesmo.

Foto: Wallace Martins / SENAI DN

Ana, a mãe de um campeão — e de todos os que sonham em ser

Hoje, no último dia de competições da etapa nacional da WorldSkills 2025, ao caminhar pelos bastidores da competição, Ana carregou uma missão silenciosa: ser presença; ser apoio; ser afeto. Ela é técnica quando é preciso. Mas é colo quando o coração pede.

E é nesse equilíbrio que ela ajuda a formar não só competidores melhores, mas seres humanos mais inteiros.

Um legado que inspira

A história de Ana, ou Dra. Ana, como também é conhecida nos bastidores do Paraná na WorldSkills, é feita de ciência e sensibilidade. De técnica e escuta. De medalhas e abraços.

Na delegação do Senai Paraná, sua presença é um lembrete de que a educação profissional não é feita apenas de ferramentas e provas. É feita de pessoas que cuidam, que acreditam e que transformam.

E que enxergam em cada competidor não só um talento, mas uma história em construção.

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