Senai Paraná desenvolve índice para reduzir impacto dos plásticos na cadeia produtiva

Notícias07/07/2025
Muito além dos mares, os microplásticos estão se acumulando nos solos com impactos diretos na agricultura, na saúde e na segurança alimentar
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Quando o assunto é poluição plástica, os mares geralmente ocupam o centro das atenções. Porém, uma ameaça silenciosa vem se espalhando por um ecossistema ainda mais próximo da vida humana: o solo. Base da produção de alimentos e do equilíbrio ecológico, ele tem se tornado depósito de microplásticos — fragmentos com menos de 5 mm oriundos da degradação de resíduos maiores ou produzidos diretamente nessa escala. 

A contaminação não é acidental, tampouco rara. Na agricultura, o uso de filmes plásticos, fertilizantes à base de lodo de esgoto e irrigação com água contaminada são algumas das principais portas de entrada para esses poluentes. Segundo uma revisão científica da Universidade Murdoch, publicada em maio de 2025 pelo portal EcoDebate, os solos agrícolas já acumulam cerca de 23 vezes mais microplásticos do que os oceanos. Além disso, os plásticos presentes no solo podem conter até 10 mil aditivos químicos, muitos deles não regulamentados para uso agrícola, o que amplia os riscos ambientais e à saúde. 

Os impactos são profundos e abrangem três dimensões principais: física, química e biológica. A presença de microplásticos pode alterar a densidade e porosidade do solo, afetar a retenção de água, modificar o pH, interferir na disponibilidade de nutrientes como nitrogênio e fósforo, além de carrear metais pesados. Ainda mais grave, há efeitos sobre organismos essenciais: interferência na reprodução de minhocas e insetos, alterações na atividade microbiana e até absorção pelas raízes das plantas, o que levanta sérias preocupações sobre a segurança alimentar. 

O pesquisador Gabriel dos Santos da Cruz, do Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente e Química, destaca em sua tese de doutorado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) que os efeitos vão além da superfície. Todos esses impactos no solo comprometem uma de suas principais funções ecossistêmicas: a capacidade de reter poluentes. Essa função permite que o solo atue como um filtro natural, retendo contaminantes orgânicos e inorgânicos, como pesticidas e metais pesados. Quando essa capacidade é prejudicada, esses poluentes podem alcançar livremente os lençóis freáticos, que alimentam rios e lagos utilizados no abastecimento de centros urbanos e rurais. 

Índice de reciclabilidade  

Frente a esse cenário, plásticos biodegradáveis foram lançados como uma possível solução. No entanto, estudos mostram que esses materiais também se fragmentam, gerando microplásticos que persistem no ambiente e podem ser tóxicos à biota do solo. Ou seja, a “biodegradação” nem sempre significa eliminação do problema. 

É nesse contexto que a ciência e a inovação tornam-se fundamentais. Para promover uma abordagem mais estratégica e sistêmica, o Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente e Química (IST MAQ), em parceria com uma empresa do setor de cosméticos, desenvolveu o projeto "Elaboração de Índice de Reciclabilidade". A proposta é criar uma ferramenta técnica que avalie, de forma prática e adaptável, o potencial de reciclabilidade de cada item do portfólio de produtos da marca. 

Esse índice considera toda a cadeia — da escolha dos materiais e insumos utilizados na embalagem até as etapas de descarte e reaproveitamento — permitindo que a empresa tome decisões mais sustentáveis, aumente a circularidade dos materiais e reduza o impacto ambiental. A iniciativa está diretamente conectada aos objetivos da Agenda 2030, que incluem o consumo e a produção responsáveis (ODS 12) e ações contra a poluição terrestre (ODS 15). 

Ao tornar visível o desempenho ambiental das embalagens, o índice também fortalece a transparência com o consumidor final e estimula uma cultura de responsabilidade compartilhada entre empresas, governo e sociedade. Reduzir o impacto dos microplásticos nos solos exige mais do que boas intenções: demanda ação coordenada, embasamento científico e políticas públicas eficazes.