Como o biocarvão pode ajudar em ações contra as mudanças climáticas

Insights07/05/2025
Reduzir emissões, valorizar resíduos e construir um futuro sustentável: conheça o potencial do biocarvão e o papel do IST em Meio Ambiente e Química
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Por Mayara Regina Fornari

As ações contra as mudanças climáticas exigem responsabilidade, tecnologia, inovação e, até mesmo, um resgate da sabedoria ancestral. Um exemplo disso é a produção de biocarvão, uma solução que une inovações tecnológicas e práticas tradicionais para enfrentar um dos maiores desafios da atualidade: reduzir as emissões de carbono.

O biocarvão, também conhecido como biochar, é um material rico em carbono produzido a partir da pirólise. A pirólise é um processo de termodegradação de resíduos orgânicos em ambiente com pouco ou nenhum oxigênio, conforme ao lado.

Assim, o que antes era considerado “lixo” (resíduos agrícolas, restos de poda ou até o lodo de esgoto) pode ser transformado em materiais com diversas aplicabilidades. Durante o processo de pirólise, o carbono presente na biomassa fica na estrutura do biocarvão, evitando que seja liberado para a atmosfera na forma de CO₂, um dos principais gases do efeito estufa. Isso acontece porque, ao ser aquecida sem oxigênio, a biomassa não queima completamente, impedindo a formação de CO₂. Em vez disso, o carbono se liga de maneira mais forte à estrutura do biocarvão.

Uma tecnologia com raízes antigas

Apesar de soar como uma inovação de laboratório recente, o uso do biocarvão tem origens milenares. Povos indígenas da Amazônia já produziam, há mais de 2000 anos, conhecido como Terra Preta de Índio da Amazônia, um solo altamente fértil. Essa terra era composta por carvão vegetal, restos orgânicos e fragmentos de cerâmica. O resultado? Um solo produtivo que permanece fértil até hoje.

Os cientistas descobriram que o carvão incorporado ao solo era a chave para manter a fertilidade por séculos. Esse conhecimento ancestral inspirou pesquisadores e inovadores a desenvolverem o biocarvão como solução moderna para a regeneração do solo e o sequestro de carbono.

Como o biocarvão ajuda na descarbonização?

O biocarvão é considerado uma das poucas tecnologias de emissão negativa, ou seja, ele não apenas evita a emissão de gases de efeito estufa, ele também remove carbono da atmosfera. Ao ser aplicado ao solo, o carbono contido no biocarvão pode permanecer ali por centenas ou até milhares de anos. O biocarvão em solos possui outras vantagens como a melhoria da retenção de água e nutrientes, aumenta a produtividade agrícola de forma natural, além de promove a economia circular, transformando resíduos em produtos.

Onde o biocarvão pode ser usado?

As aplicações do biocarvão são diversas e crescem a cada ano:

  • Agricultura: como comentado anteriormente, melhora a qualidade do solo, e a produtividade a longo prazo.

  • Reabilitação de solos degradados: essencial para áreas afetadas por práticas intensivas.

  • Gestão de resíduos: transforma o descarte orgânico em um ativo econômico.

  • Créditos de carbono: projetos com biocarvão podem gerar créditos comercializáveis.

  • Pesquisa e indústria: usado como insumo em materiais de construção e novas tecnologias.

  • Adsorvente: utilizado com substituto do carvão ativado na adsorção de poluentes.

  • Energia: Usado para queimas de caldeiras como substituto do carvão mineral.

Benefícios para além do carbono

Além de contribuir para a descarbonização, o biocarvão também traz impactos sociais e econômicos positivos. Por exemplo, a sua produção pode gerar renda e empregos locais, reduzindo a dependência de insumos químicos e fortalecendo a bioeconomia.

Outro benefício importante é o impacto direto na saúde pública. Ao evitar a queima de resíduos, descartes inadequados ou sua decomposição em aterros, contribuem para a redução da poluição do ar e dos riscos à saúde da população. Além disso, quando os resíduos são mal destinados podem ser um ambiente favorável para a proliferação de insetos e roedores no local.

Um passo importante rumo ao futuro sustentável

A descarbonização com biocarvão é uma solução acessível e eficaz, que pode ser implementada em pequenas, médias e grandes escalas. Ao unir tecnologia e tradição, essa prática mostra que o caminho para um futuro sustentável passa por valorizar tanto o conhecimento ancestral quanto a ciência moderna.

A aplicação de biocarvão também contribui diretamente para diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como:

  • ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável: ao melhorar a fertilidade do solo e aumentar a produtividade de forma natural;

  • ODS 7 – Energia acessível e limpa: promovendo alternativas energéticas renováveis a partir da biomassa;

  • ODS 9 – Indústria, inovação e infraestrutura: incentivando o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e novos modelos de negócio;

  • ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: reaproveitando resíduos orgânicos e promovendo a economia circular;

  • ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima: ao capturar e armazenar carbono, reduzindo emissões de gases de efeito estufa;

Assim reduzir o carbono na atmosfera, regenerar o solo e transformar resíduos em recursos: o biocarvão é mais do que uma tendência, é uma resposta concreta aos desafios ambientais do nosso tempo.

Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente e Química na produção de biocarvão

Com uma visão voltada para o futuro, o Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente e Química tem se dedicado a impulsionar a produção de biocarvão, com ênfase no aprimoramento dos processos de obtenção desse material. Através de análises laboratoriais, consultoria técnica especializada e o desenvolvimento de soluções personalizadas, o Instituto busca otimizar a utilização de resíduos orgânicos, melhorar as tecnologias de pirólise e tornar a produção de biocarvão mais eficiente e sustentável.

Com sua expertise e com case de sucesso (Produção de biochar a partir da azeitona ), o IST em Meio Ambiente e Química tem sido um parceiro estratégico na otimização dos processos de pirólise, garantindo não apenas a eficiência na produção do biocarvão, mas também promovendo a economia circular por meio do reaproveitamento de resíduos. Essa abordagem também contribui diretamente para a descarbonização, ao reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover soluções inovadoras para um futuro mais sustentável.